Pelas propriedades cognitivas da saliva, em especial pela ação adesiva das glicoporteínas (mucina), pode-se colar partículas previamente quebradas pela ação mecânica da
mastigação para posterior deglutição.
Confere o grau de umidade à mucosa bucal e faríngea e o ambiente úmido das vias digestivas superiores em geral.
A água da saliva é o solvente no qual se dissolvem as substâncias que estimulam os corpúsculos gustativos, estimulação importante que mantém a secreção salivar (feed back positivo).
A função protetora é expressa de varias formas. A saliva tem papel lubrificante. Seu conteúdo glicoproteico, que torna mucinosa, protege a mucosa de revestimento, formando uma barreira contra estímulos nocivos, toxinas microbianas e pequenos traumas. Sua consistência fluida também provê uma ação de lavagem mecânica, a qual carreia bactérias não-aderentes e debris celulares da boca. Em particular, a limpeza promovida pela saliva limita a disponibilidade dos açúcares para os microrganismos da placa
acidogênica. As proteínas da saliva que se ligam ao
cálcio ajudam a formar uma película que se comporta como uma membrana protetora.
A saliva comporta-se como um sistema
tampão que protege a cavidade oral de duas maneiras: primeiro, muitas bactérias necessitam de um
pH específico para seu crescimento máximo; a capacidade tampão da saliva evita a colonização da boca por microrganismos potencialmente patogênicos, por negar-lhes a otimização das condições ambientais: em segundo lugar, os microrganismos da placa podem
produzir ácido a partir de açúcares, os quais, não sendo rapidamente tamponado e limpos pela saliva, podem
desmineralizar o
esmalte.
A capacidade-tampão da saliva (CTS) é a propriedade de a saliva manter o seu pH constante a 6,9-7,0, graças aos seus tampões, mucinato/mucina, HCO-3/H2CO3 e HPO--4/H2PO-4, que bloqueiam o excesso de ácidos e de bases conforme os mecanismos:
- Excesso de ácidos (H+):H+ + HCO-3 → H2CO3 → H2O + CO2
- Excesso de bases (HO-): HO- + H2CO3 → HCO-3 + H2O
Os tampões mucinato/mucina e monofosfato/bifosfato agem da mesma forma e. assim. o elevado poder tamponante da saliva mantém a
higidez da mucosa bucal e dos dentes.
A determinação da CTS se faz por
titulometria, medindo-se o volume de ácido láctico 0,1 normal necessário para baixar o pH salivar de 6,9 a 3,7 (ponto de viragem do alaranjado de metila). O indicador é amarelo-laranja a 6,9 e róseo a 3,7. Na prática, colocam-se 10ml de saliva num
erlenmeyer, juntamente com o alaranjado de metila, e verte-se, na saliva, gota a gotra, o ácido láctico 0,1 normal colocado numa bureta, até ser atingida a cor rósea (viragem do alaranjado de metila). Fecha-se então a bureta e lê-se o volume de ácido láctico 0,1
N gasto. Para exprimir a CTS usa-se multiplicar por 10 o volume de ácido láctico gasto. E assim, podemos classificar os pacientes em três grupos:
- Pacientes medianamente susceptíveis à cárie dental: CTS = 40.
- Pacientes resistentes à cárie dental: CTS = >40.
- Pacientes muito susceptíveis à cárie dental: CTS = <40.
Dentro de certos limites, a CTS funciona como um
índice relativo de atividade de cárie dental.
A saliva possui também um papel na
gustação. Embora ela permita que se tenha a sensação de satisfação da
comida a ser experimentada, seu papel principal é o de proteção, permitindo o reconhecimento de substâncias nocivas. A saliva é necessária para dissolver substâncias a serem degustadas, assim dessa forma as papilas gustativas vão poder sentir o sabor do alimento e fazer com que ele seja digerido, além de informar ao cérebro o gosto do
alimento. Ela contém, também proteína, chamada
gustina, que parece ser necessária ao crescimento e maturação dos corpúsculos gustativos.
Tem a saliva grande influência ecológica sobre os microrganismos que tentam colonizar os tecidos bucais. Além do efeito de barreira do seu conteúdo mucoso, ela contém um espectro de proteínas com propriedades antibacterianas, como é o caso da
histatina. A
lisozima é uma enzima que pode hidrolisar a parede celular de algumas bactérias. A
lactoferrina liga-se ao
ferrolivre, privando, assim as bactérias do seu elemento essencial.
Anticorpos estão presentes na saliva. A principal
imunoglobulina encontrada na saliva,
IGA secretora, tem a capacidade de aglutinar microrganismos. Essa capacidade, juntamente com a ação de limpeza da saliva, serve para remover agregados de bactérias.
A saliva é saturada com íons
cálcio e
fosfato. A alta concentração dos referidos íons garante trocas iônicas direcionadas à superfície dos dentes. Essa troca começa tão logo o dente erupcione, pois, embora a coroa esteja completamente formada sob ponto de vista morfológico, nesse momento, ela é cristalograficamente incompleta. A interação com a saliva resulta em maturação pós-erupção através difusão de íons, como o cálcio, fósforo,
magnésio e
cloreto, para a superfície dos cristais de
apatita do esmalte.
Essa maturação aumenta a dureza da superfície, diminui a permeabilidade e aumenta a resistência do esmalte às
cáries. Se, contudo, o processo carioso for instalado, poderá ser paralisado, antes de ocorrer a cavitação do esmalte, sendo possível o processo de
remineralização devido à disponibilidade de íons fosfato e cálcio na saliva. Se os íons fluoreto também estiverem disponíveis na remineralização, a lesão reparada será menos susceptível a uma futura decomposição. Por outro lado, a saliva contém
estaterina, que inibe a deposição de fosfato de cálcio, como também proteínas acídicas ricas em
prolina, que, juntamente com a
estaterina inibem o crescimento dos cristais de
hidroxiapatita.
Clinicamente, parece que o tempo de sangramento dos tecidos bucais é inferior aos dos outros tecidos. Quando a saliva é experimentalmente misturada com sangue, o tempo de coagulação pode ser muito acelerado (embora o coágulo resultante seja menos sólido que o normal). Estudos experimentais em camundongos têm mostrado que a contração da ferida é significantemente aumentada na presença da saliva, devido ao fator de crescimento epidérmico que ela contém, produzido pelas glândulas submandibulares. Ainda que com menor freqüência, o fator de crescimento ocorre na saliva humana, mas seu efeito sobre os processos de reparação ainda não foi demonstrado.
É a falta de produção de saliva. Existem diversas causas para esse quadro. Uma das soluções possíveis para o quadro é o uso de saliva artificial.
Xerostomia é a sensação de boca seca. Diferentemente da hiposalivação, que é a diminuição do fluxo salivar.
Referências
- Tratado de Fisiologia Aplicado à Saúde; C. R. Douglas.; 5 º edição; Guanabara Koogan.
- Histologia bucal, Desenvolvimento, Estrutura e função; A. R. Ten Cate; Quinta edição; Guanabara Koogan; 1998.
- Bioquímica odontológica; Aranha, Fávio leite ; São Paulo: Savier, 2 ed.; Revista e ampliada., 2002.